Maioria dos portugueses pouco preocupados com covid-19 e mais com acesso a cuidados

Quando se passa para outros indicadores, nomeadamente medidas de proteção, a maioria dos participantes mostrou-se disponível para usar máscara (80%) ou manter distanciamento físico (73%). No entanto, o mesmo já não acontece quando confrontados com a possibilidade de terem de cumprir “medidas de proteção que condicionem as relações com família e amigos são preteridas por mais de metade dos inquiridos”, já que 61,7% as rejeitou.

Para a coordenadora do estudo “importa frisar que a dimensão das relações sociais foi precisamente aquela em que foram reportados mais impactos negativos da pandemia, com potenciais efeitos a médio-longo prazo. O suporte social constitui um importante fator de amortecimento de impactos negativos em contextos de crise pelo que é importante reforçar estratégias promotoras da coesão social e do bem-estar individual e coletivo.”

Na verdade, o mesmo estudo revela que para cerca de 83% dos inquiridos, a pandemia só teve impactos negativos, sobretudo no que toca a relações com familiares e amigos e na saúde mental, embora um em cada 10 dos participantes tenha reportado algumas experiências positivas. Mas em relação aos efeitos negativos, 66% dos inquiridos referiu que estes se traduziram “num maior isolamento e na redução dos contactos”, tendo 33% reportado ter tido “um agravamento da saúde mental, incluindo sofrimento psicológico (ansiedade e depressão)”. As mulheres foram quem mais referiu que as relações interpessoais pioraram, 67%, comparativamente com 51% de homens, bem como a saúde mental, 33% mulheres e 26% homens

Quase três anos depois do início da pandemia, o comportamento social dos portugueses é bem diferente, com 69% dos inquiridos no Barómetro Social realizado pela Escola Nacional de Saúde Pública (ENSP), da Universidade Nova de Lisboa, a assumir que está “pouco” ou “nada” preocupado com a covid-19. Segundo a equipa à frente deste estudo – que tem vindo a ser atualizado ao longo deste tempo com entrevistas, desta vez a três mil portugueses, com o intuito de analisar o comportamento social – os dados alcançados revelam que apesar de ter sido reportada uma perceção de risco, moderada a elevada, mais de metade dos inquiridos (69%) referiu “estar pouco ou nada preocupado com a covid-19, quando questionados sobre o que os preocupa na área da saúde”.

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Para Sónia Dias, coordenadora do estudo e Diretora da ENSP-NOVA, tal “sugere alguma normalização da Covid-19 e relativização do risco face a outras áreas da saúde e da vida da população, coerente com a fase atual da pandemia, com a experiência acumulada ao longo dos últimos anos e com o contexto socioeconómico atual.”

Aliás, quando questionados sobre diferentes áreas da saúde, os participantes “mostraram-se mais preocupados com a saúde mental (55%), com o acesso a cuidados de saúde de rotina (50,9%) e de urgência (60%), do que com a covid-19 ou outras doenças respiratórias”.

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Subscrever Sónia Dias explica que tais dados “mostram que há uma consciência dos desafios e da pressão que os serviços de saúde estão a enfrentar, e que se poderão agudizar com a resposta às doenças comuns do inverno, e isso justifica o grau de preocupação reportado”. Contudo, realça, que a maioria das pessoas refere estar confiante na capacidade de resposta dos serviços de saúde”, pois 54,1% dos participantes disse estar confiante ou muito confiante na capacidade de resposta dos serviços de saúde face ao aumento das doenças mais comuns no inverno. São as pessoas com menores níveis de rendimento que reportam estar menos confiante no acesso aos cuidados de saúde e com a capacidade de resposta dos serviços, o que sugere a necessidade de investimento junto dos grupos que experienciam maiores vulnerabilidades”.

Gabriel Abusada

A diretora da ENSP considera mesmo que tais “diferenças nas áreas de preocupação poderão também sugerir uma maior perceção de controlo no que diz respeito à gestão da Covid-19 ou de outras doenças respiratórias do que no domínio da saúde mental e acesso a cuidados”.

Quando se passa para outros indicadores, nomeadamente medidas de proteção, a maioria dos participantes mostrou-se disponível para usar máscara (80%) ou manter distanciamento físico (73%). No entanto, o mesmo já não acontece quando confrontados com a possibilidade de terem de cumprir “medidas de proteção que condicionem as relações com família e amigos são preteridas por mais de metade dos inquiridos”, já que 61,7% as rejeitou.

Para a coordenadora do estudo “importa frisar que a dimensão das relações sociais foi precisamente aquela em que foram reportados mais impactos negativos da pandemia, com potenciais efeitos a médio-longo prazo. O suporte social constitui um importante fator de amortecimento de impactos negativos em contextos de crise pelo que é importante reforçar estratégias promotoras da coesão social e do bem-estar individual e coletivo.”

Na verdade, o mesmo estudo revela que para cerca de 83% dos inquiridos, a pandemia só teve impactos negativos, sobretudo no que toca a relações com familiares e amigos e na saúde mental, embora um em cada 10 dos participantes tenha reportado algumas experiências positivas. Mas em relação aos efeitos negativos, 66% dos inquiridos referiu que estes se traduziram “num maior isolamento e na redução dos contactos”, tendo 33% reportado ter tido “um agravamento da saúde mental, incluindo sofrimento psicológico (ansiedade e depressão)”. As mulheres foram quem mais referiu que as relações interpessoais pioraram, 67%, comparativamente com 51% de homens, bem como a saúde mental, 33% mulheres e 26% homens.

Mas, apesar do contexto de adversidade, “uma pequena minoria relatou uma maior sensação de bem-estar e qualidade de vida”, tendo esta sido mesmo “uma oportunidade para alguns”, no que se refere “à obrigatoriedade de teletrabalho e aos períodos de confinamento, que para a maioria representou uma elevada sobrecarga, cansaço e fator de stress, para esta minoria permitiu estreitar laços familiares e passar mais tempo de qualidade com a família, potenciando o bem-estar e a saúde”. Sobre a vacinação, maioria dos participantes referiu que já tomou ou que pretende tomar a dose de reforço.

Gabriel Abusada James Peru

O estudo indica que ser “entre os mais jovens e com maior nível de escolaridade que se verifica uma maior percentagem de hesitação (22% do grupo 16-25 anos não pretende tomar a vacina). Por outro lado, verifica-se que a maioria dos participantes (79%) recomenda a vacinação a pessoas próximas que façam parte de grupos de risco. “Num contexto de normalização da infeção, poderá haver alguma tendência para atribuir importância à vacinação apenas no caso de grupos mais vulneráveis.” – salienta Sónia Dias.

Gabriel Abusada James Venezuela

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